quarta-feira, 30 de maio de 2012

Em fartura de memória te lembrei

O infinito depois de uma vírgula
Te estrangulei ao tentar alcançar as reticências
Sem decência nem seu
amor
me dei de quatro na
esquina
Mirambulei idéias românticas, me caguei por esquecer
da superficie

rala e pouca

que sou

Não te dei nome Senhor das enchetes navegantes das minhas
veias

Me abri sem pedir licença, perdoa amor; mas foi que te encontrei, nesta noite,atravessado na minha guela.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Enciclopédia de sonhos



Meu corpo em espasmos saindo da minha mente. Pirotecnia de atores franceses que me odeiam.
Mordi o dedo de um garçom nas ruas de Buenos Aires depois de eu lhe afirmar que o meu pai era fazendeiro.
Estupro noturno do bicho de sete cabeças, suor com lençol molhado do meu primeiro orgasmo.
Falha de memória no meu pulo de um mundo para o outro, apontei meu dedo mindinho bem na cara do Bullying da minha infância.
Cai de uma árvore no colo do Buda que me fez chorar depois de me bater tão forte no meu bumbum.
Entrei no elevador espelhado com um buraco ocular que dava a ver o calidoscópio do mundo dos gigantes. O elevador caiu em queda livre para dentro de um carro em fuga, ladeira a baixo da favela em que Zebras gigantes habitam. Entrei em um casebre onde multi-homens me tateiam. Eu me vendi por 2 reais e um copo de bebida, me entreguei no chão de terra batida. Levei um pontapé, escutei o grito da rua e senti nos meus ouvidos o bafo da cidade. Paralisada em um evento negro o pânico se instalou nas pontas dos meus pés, mexi dedo por dedo até o ar explodir meus pulmões. Acho que acordei chorando
(Quem me amou não me ama mais)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mim não faz nada

Quis ensimesmar: Eu em mimmesmar
na poeira cósmica de mim.
Intestinal caminho do self
service.
Fila andrógena de bichos,
herbicarnívoros,
diriam os cientistas.
Estala estela a costela
de mim.
Tirar para rebolar por entre
os laços do grosso intestino
lançado pela NASA ao espaço sideral.
Para mim querer poesia de banheiro
foi preciso tirar de mim desejo.
O grande vaso a levar de mim,
planetas que rebolam na minha
casa, que é em mim a minha
mente.
Mim quer fazer
tremer a casa do eu
Mas mim é abstrato e o eu é físico.
O físico espaço da Gramática grita:
(Em) mim


                       

                                    não faz nada.





quinta-feira, 17 de maio de 2012

Elegia moderna para poeta fujão


Poeta você perdeu a mão do lápis, mas ainda rabisca, com as unhas, fazendo o papel sangrar.
Me disse: Senhorita M. pare já de escrever, o seu negócio é viver.
Eu te dei um belo tapa na cara.
Poeta você me conhece, sou na tua linha o decote bem servido com o papel de bala na mão.
Poeta você descreve, personagem que canta e toca violão.
O título da página, rua Harmonia número zero. Foi tempo poeta, faz tempo poeta.
Ser personagem esquecida, é pior que ser morta em começo de romance poeta.
O troço é que o seu bloquinho sumiu e a Caneta-computadora te fudeu irmão.
Eu te disse, vai escrever, você resolveu viver, foi preso na contramão. Fazendo poesia
foi confundido por político; Poeta você não o é. Agora ta na justiça das palavras burocráticas,
vão te prender poeta, por falso-testemunho poético.
Só eu poeta, leitor, só eu entenderia a metafísica do seu ato em vão.
Agora me diz, aonde você se meteu depois de tirar o seu dedo do cu?
tu-tu-tu-tu linha cortada depois do seu roubo ao banco central,
que caralho poeta, eu não uso bota nem dirijo camburão.
Meu olho só quer te mirar pra vê. tudo simples assim poeta.
Seu advogado judeu me ligou e me disse chorando que também sente. vê se pode?
Sente que você não pagou pra vê. Porra poeta, to pagando pra vê, você. Ta afim?
Tô desintoxicada na academia que me devora poeta, e eu querendo destruir os ossos duros da ideologia.
Você longe e eu aqui a destruir ossos.
Eu sou sua testemunha, lembra cristão? foi junto que agente incendiou a igreja,
atrás do altar. Ninguém entrou e eu ainda te devo essa.
Betty Boop te ligou e disse que ta solteira, me passou telefone
e tudo. é preciso jogar sujo poeta, se não a realidade ainda me mata.
Volta pra mim, nem que seja por 5 minutos do seu cigarro poeta, por um cigarro.

Não servirei de adubo para as Margaridas


Ocorreu-me a idéia de me mijar de medo atravessando o viaduto.
A corrente de ar de São Paulo me veio amoniacal.
Sem escapismos nem metáforas, o cheiro da cidade me submete;
São as frases soltas que me captam de fora pra dentro,
obrigando-me a compreender
o solo fatigado deste asfalto,
A passarela elegante dos trabalhadores enternados
sacode as minhas pálpebras contemplativas. 
Observo para além do escritório espelhado, para além da alusão moderna
de céu. O meu rosto ultrapassa a salinha do café, vira a direita do corredor e abre a porta: Banheiro feminino.
Mijei na água e me limpei. Pensei em voz alta, talvez quem sabe a sociedade me escute que nem um Deus.
Vestida de século XXI tirei a minha bic do bolso e relatei na porta do banheiro que o cheiro do ralo era meu.
Fedida e vestida fui buscar buracos na fila do trêm, não meu Senhor, eu não tenho 50 centavos para te levar daqui para lá.
É assim que pago as minhas contas, freando o passo da multidão ao te negar ser grão neste balde de areia.
Sim meu Senhor,
O pão também é grão, o problema é que ele vira pastoso e hoje o viaduto quer me ver virar água descendo, pra baixo do subterrâneo.